18 abril, 2023

O VALOR DO TRABALHO

                                                                                                                          Paulo Eduardo Razuk

 

             Diz o Gênesis, sobre a queda do homem que, em consequência do pecado original, a sentença divina condenou o homem a comer o seu pão com o suor do seu rosto, até que retornasse ao solo, pois dele fora tirado e ao pó tornaria.

          Em 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIII, na Encíclica Rerum Novarum, ensina que a pobreza não é um opróbio, não se devendo corar por ter de ganhar o pão com o suor do seu rosto. O Filho de Deus e Deus ele mesmo quis passar aos olhos do mundo por filho de um artífice, chegando a consumir grande parte da sua vida em trabalho como carpinteiro, filho de Maria.

         No cinquentenário da Rerum Novarum, em 1º de junho de 1941, o Papa Pio XII fez uma alocução, referindo que a Encíclica ensina que duas são as propriedades do trabalho humano: é pessoal e é necessário. É pessoal, porque se efetua com o exercício das forças particulares do homem; é necessário, porque sem ele não se pode granjear o indispensável à vida, cuja manutenção é dever natural, grave e  individual. Ao dever pessoal do trabalho, imposto pela natureza, corresponde e segue-se o direito natural a cada indivíduo de fazer do trabalho o meio para prover à vida própria e dos filhos: tão altamente ordenado à conservação do homem é o império da natureza.

       Se o vício é o hábito do mal, a virtude é o hábito do bem. Os vícios capitais são sete, a saber: soberba, avareza, luxúria, ira,  gula , inveja e preguiça. Os vícios vencem-se com as virtudes que lhes são opostas: a soberba com a humildade; a avareza com a liberalidade; a luxúria com a castidade; a ira, com a paciência; a gula, com a temperança; a inveja com a caridade; a preguiça com a diligência e o fervor no serviço de Deus.

       Para Santo Tomás de Aquino, o trabalho é um hábito bem direcionado a um fim legítimo, pelo que se torna uma virtude. O contrário da virtude é o vício, hábito mal direcionado.  O oposto do trabalho é o ócio, vício capital, que conduz a outros.

        A acídia é o tédio ou tristeza em relação aos bens interiores e aos bens do espírito. As filhas da acídia são: desespero, pusilanimidade, torpor, rancor, malícia e divagação da mente.

       No caso da acídia, em que se trata de bens espirituais,  tais bens são fins e meios. A fuga ao fim se dá pelo desespero. A fuga dos bens que conduzem ao fim dá-se pela pusilanimidade e pelo torpor em relação aos preceitos. A ociosidade e a sonolência reduzem-se ao torpor em relação aos preceitos: o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de modo negligente.

        Na Física, Aristóteles afirma que a Natureza provém do intelecto divino e que a Arte provém da imitação da Natureza. O homem deve buscar na Natureza e na Arte os meios para viver virtuosamente.

           Na Divina Comédia, Dante Alighieri colocou no quinto círculo do Inferno os pecadores por acídia ou tédio, que entristece a vida como o fumo, que a tudo tolda. Os acidiosos estão impedidos de respirar o ar, e, afundados no limo, suas palavras borbulham na agua podre, sufocadas nas gargantas que engolem barro.

            A fábula A Cigarra e a Formiga, de Esopo, recontada em verso por La Fontaine, é uma referência sobre o valor do trabalho. As personagens representam duas posturas opostas perante a vida: a dos esforçados e a dos preguiçosos. É necessário pensar no futuro e batalhar por ele.

 

Bibliografia

1.       A Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas, São Paulo, 1991.

2.       Dante Alighieri, A Divina Comédia, tradução de João Trentino Ziller, Ateliê Editorial, São Paulo, 2012.

3.       Santo Tomás de Aquino, Os Sete Pecados Capitais, Martins Fontes, São Paulo, 2004.

4.       Encíclicas e Documentos Sociais, Edição LTr, São Paulo, 1972.

5.       Jean de La Fontaine, Fábulas, tradução de Milton e Eugênio Amado, A Cigarra e a Formiga.

6.       Carolina Marcello, fábula A Cigarra e a Formiga (com moral), Cultura Genial, Internet.

7.       José Pedro Galvão de Sousa, Presença, Rio de Janeiro, 1982