04 outubro, 2016

Kant e a Morte da Metafísica (PARTE I)

Nas escolas e nas universidades fala-se muito na filosofia de Immanuel Kant (1724 - 1804), filósofo protestante, mas pouco se esclarece sobre o que ele realmente defendia. Kant é chamado de “o filósofo da modernidade”. Segundo este pensador, não pode haver conhecimento fora da experiência sensível, ou seja, todo conhecimento pressupõe uma experiência anterior. Mas não basta a mera experiência. Se não houver prova irrefutável da existência de algo ou da Verdade de uma afirmação, esse conhecimento é uma mera convenção. Significa dizer que toda a verdade só existe, ou só é cognoscível, quando provada pelo método empírico. Logo, o que não pode ser provado pelo método empírico, não existe, não é verdade ou não interessa.


O kantismo (metafísica crítica) consiste na síntese entre racionalismo e empirismo. Ele representa uma ruptura com a filosofia tradicional, na medida em que tira a atenção do mundo e do ser, e passa a valorizar as faculdades do homem que permitem conhecer o mundo e o ser. A partir de agora, não importa o que as coisas são e como elas são; importa como as vemos ou como as “representamos”. Para Kant, a nossa razão causa confusão, por conta disso a verdade ontológica (a verdade objetiva – no ser) não existe; o que existe é a verdade subjetiva (que reside no sujeito cognoscente). Daí a importância da utilização do método empírico para livrar o homem das armadilhas da razão.

Mas ora, a própria ideia de que tudo pode ser provado pelo método empírico não pode ser provada pelo método empírico. Por outro lado, é muito estranho que uma filosofia que duvide da própria razão seja chamada de Racionalista. A Ciência, para existir, deve se sustentar em princípios que não podem ser provados, como o Princípio da Identidade, da Não Contradição, etc. O kantismo não pode provar a consciência humana, muito menos atribuir sentido ao que seja belo, ou feio; justo, ou injusto. Essa tarefa cabe à estética e à ética, respectivamente. Tais ciências dependem da Metafísica e da Religião como fundamento.

O kantismo nega formalmente a essência do SER, a verdade ontológica. A verdade ontológica trata do SER em si, independente do modo pelo qual ele se apresenta. Negando o SER, nega-se toda a metafísica aristotélica, que é capaz de dar fundamento às ciências particulares através da reflexão sobre a natureza do SER. A esse estudo sobre a natureza do SER, Aristóteles deu o nome de Filosofia Primeira.
A Filosofia Primeira, doravante chamada Metafísica, se ocupa dos fundamentos da realidade, bem como do sentido e da finalidade dos seres e da existência. Estuda também o SER, enquanto SER, ou seja, “o que é o ser”. Alguns estudiosos dizem que é o estudo do “Transcendente” (realidade insensível), mas na verdade a Metafísica compreende o problema do ser como um todo, desde a “causa material” contida no SER, passando pela causa formal contida também no cognoscente, chegando até seus atributos mais particulares. A realidade transcendental é uma das várias descobertas da metafísica aristotélica, todavia não esgota seu objeto de estudo.

Nosso intuito não é desenvolver uma apologética da metafísica de Aristóteles, tampouco formular um tratado filosófico; nosso intuito é denunciar o desserviço causado pela metafísica crítica de Kant, que de metafísica não tem nada. Denunciar a negação do cosmos (ordem no Universo), a negação do Ser e a negação da própria realidade. Nosso objetivo é alertar que esse sistema denominado kantismo não merece ser chamado de Ciência, nem de Filosofia. Não merece sequer ser chamado de sistema, pois em qualquer sistema é possível identificar a ordem dos mecanismos que unem as partes que o compõem. E, como veremos, o kantismo nega a ordem na natureza.

Bruno Silveira

Continua...

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