09 fevereiro, 2021

SOFISTAS ANTIGOS E MODERNOS

 

                                                                                                                 Paulo Eduardo Razuk

I

Filosofia significa amor à sabedoria. Filósofo é aquele que se consagra a adquirir a inteligibilidade do real. É consenso que a filosofia ocidental nasceu na antiga Grécia, com as especulações dos pré-socráticos. Com efeito, a partir dos gregos data a crença racional na ordem e na busca metódica da sabedoria e da verdade, onde reside a essência   da filosofia.

O filósofo (1660)
Luca Giordano

A filosofia abrange um grupo de disciplinas às quais cabe a formulação sistemática do trabalho especulativo. Tais disciplinas são: a) a gnoseologia, que trata do problema do conhecimento da verdade; b) a lógica, que investiga as estruturas formais dos sistemas de pensamento; c) a epistemologia, que perquire a estrutura, o fundamento e os métodos dos sistemas científicos; d) a semiótica, que estuda a linguagem, isto é, o significado da comunicação.

A história da filosofia ocidental fornece uma visão retrospectiva da evolução intelectual, desde o século VI  a.C.  até o presente.

Portanto, o saber filosófico demanda  estudo dedicado e demorado, não podendo ser adquirido de maneira rápida e superficial.


II

Na antiga Grécia, surgiram os sofistas, que tomaram o homem considerado centro do mundo e não mais parte de um todo natural que o supera e domina.

Os sofistas eram mestres populares de filosofia, ávidos de riqueza e glória, que exploravam em benefício da própria vaidade e cupidez o estado de espírito criado pelas especulações  filosóficas e condições sociais do tempo.  Mais retóricos que filósofos, argutos, artificiosos e eruditos, ensinavam à juventude ateniense, atraída pelos encantos da eloquência, com a arte de defender o pró e o contra de todas as questões, o segredo de tirar partido de qualquer situação, galgando  as mais elevadas posições em uma democracia volúvel e irriquieta. Serviam-se das armas da razão para destruir a própria razão, sobre as ruínas da verdade erigindo o interesse em norma suprema de ação.

 Deles disse Xenofonte serem os que vendem sabedoria por dinheiro. Para Platão, sofista é o que constrange o seu interlocutor a dizer coisas contraditórias, com o prestígio das palavras que enredam os seus ouvintes. Aristóteles definiu como sofista o que aufere lucros de uma sabedoria que parece e não é. Sócrates combateu toda a vida esses   pseudo-filósofo

A principal figura desse movimento foi Protágoras, cujo mote espiritual foi assim formulado: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”. A proposição é ambígua, visto que pode levar a duas conclusões diametralmente opostas: a primeira é que,  ao reduzir-se o ser ao aparecer, nada é verdade; a segunda é que como as únicas proposições possíveis são as formuladas do ponto de vista do homem, tudo é possível. Ou seja, de cada homem considerado individualmente dependem as coisas, não em sua realidade física, mas na sua forma conhecida.

Outra figura, Górgias, concluiu pela absoluta impossibilidade do saber: nada existe; se alguma coisa existisse, não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos, não a poderíamos manifestar aos outros.

Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial.

III

No que concerne à civilização e à sorte do homem, a técnica  é neutra, podendo contribuir para a felicidade ou para a desgraça dos povos. Em si mesma, é neutra, só recebendo o sinal positivo ou negativo quando a vontade humana determina o seu uso. A técnica só é uma autêntica glória do homem, enquanto permanecer na glória de Deus.

 Assim sendo, o grande desenvolvimento da tecnologia, com o rádio, a televisão e a internet, ampliou a comunicação entre os seres humanos, dos grandes centros aos mais remotos rincões. Tais meios, em si mesmos, são neutros, podendo servir ao bem ou ao mal, a depender da vontade do homem.

 Na antiga Grécia, os sofistas atuavam em praça pública ou em ambientes reservados, de modo a atingir somente os circunstantes. Na atualidade, surgiram novos sofistas, que se servem da técnica, para chegar a um número inestimável de destinatários do que pregam.

Para S. Tomás de Aquino, a verdade manifesta-se de dois modos: diretamente pela revelação e indiretamente pela razão. A primeira é objeto da teologia; a segunda da filosofia. Distingue-se a lei eterna, ordenação da sabedoria divina que rege o universo, da lei natural, participação da lei eterna na criatura racional, e da lei positiva ou humana, que pode ser eclesiástica ou civil.

No Paraíso, Deus proibira ao homem comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, sob pena de morte. Todavia, o homem deixou-se enganar pela serpente, que lhe prometeu ser como um deus, versado no bem e no mal, isto é, por si mesmo estabelecer o que é bom ou mau, sem o limite da lei natural.

 Ora, os modernos sofistas declaram ser ateus ou agnósticos,  o que vale dizer que não reconhecem limite superior à vontade humana. Cultos, inteligentes e vaidosos, fizeram do antropoteísmo  a sua religião. Atraem pela eloquência e impressionam pela erudição. Cultivam  o “politicamente correto”, seduzindo os ouvintes com a promessa de que tudo que agrade ou apeteça é válido, a justificar qualquer comportamento, sem encontrar outro limite que a lei positiva. Reduzem o direito ao arbítrio da força social preponderante.

 Através dos meios tecnológicos de comunicação, propagam as suas idéias, a desviar o homem da sua vocação a Deus.

 

                                                       Vale relembrar o Eclesiastes:

                                                       “O  que foi será

                                                       O que se fez,  se tornará a fazer

                                                       Nada há de novo  debaixo do sol “.

 

Fontes:

Leonel Franca S.J., Noções de História da Filosofia, 19ª edição, Agir, Rio,  1967

Luís Washington Vita, Pequena História da Filosofia, Saraiva,  S. Paulo, 1968

Gustavo  Corção,  As Fronteiras da Técnica, 5ª edição, Agir, Rio, 1963

José Pedro Galvão de Sousa, Direito Natural, Direito Positivo e Estado de Direito, Revista dos Tribunais, S. Paulo,  1967

A Bíblia de Jerusalém, 5ª  impressão ,  Paulinas, S. Paulo, 1991