14 outubro, 2020

O Largo da Sé: da capela colonial à catedral eclética

                             
                                                                                   

Igreja da Sé e seu estilo eclético
                  O primeiro sítio da igreja matriz de S. Paulo situava-se mais abaixo que o atual, onde hoje fica o monumento a Anchieta. A primeira matriz começou a ser erguida em 1589, tendo sido concluída em 1616. Era uma modesta capela em estilo colonial.

                 Com a criação da diocese em 1745, o primeiro templo foi demolido e substituído por um novo em estilo barroco, terminado em 1769. Seria demolido em 1911. A seu lado ficava a igreja de S. Pedro, também demolida, no lugar onde hoje está o prédio da Caixa Econômica Federal.

                  O templo atual começou a ser erguido em 1913, tendo sido inaugurado em 1954, por ocasião do quarto centenário da cidade. Todavia, as torres somente foram finalizadas em 1969. O projeto, de caráter eclético, é do arquiteto alemão Maximilian Emil Hehl, também responsável pela igreja da Consolação e pela catedral de Santos.

              Na de S. Paulo predomina o estilo neogótico na fachada, na nave e nas torres, a revelar a inspiração nas grandes catedrais medievais da Europa, mas a cúpula é de estilo renascentista, como no Domo de Florença. De tal mistura de estilos que se contrapõem pode-se  fazer algumas observações.

                   Ensina Orlando Fedeli ter o Criador feito o mundo à Sua imagem e semelhança. Por isso, a beleza existente no universo é reflexo  da beleza de Deus. Esse reflexo pode ser encontrado de maneira estética, tendo em vista as formas materiais e seus símbolos. Pela sensibilidade, pode-se contemplar o que é belo, procurando entender a razão do prazer estético.

                  Toda beleza manifesta de modo analógico as qualidade
s invisíveis de Deus. Ele não só fez as coisas belas, como permitiu que o homem as fizesse por meio da arte. A verdadeira obra de arte deve fazer com que a inteligência compreenda o bem de algo. Consegue isso quando respeita as leis objetivas  da estética: a unidade, a variedade, a ordem, a proporção, a simetria etc. Belo é aquilo cuja vista agrada, não havendo arte na busca do feio, do disforme e do monstruoso.

                  Os estilos românico e gótico marcam o apogeu da arte ocidental. O gótico é o ápice da arte  medieval. Não há como não extasiar-se ante  as catedrais de Notre Dame de Paris, de Chartres e de Amiens. O estilo gótico é a filosofia escolástica na pedra. Procura incentivar a virtude, com pudor, recato e pureza. Fé, esperança e caridade são encontradas de maneira simbólica no gótico. Pureza na forma, serenidade no espírito e majestade no conjunto tornam o gótico o mais católico dos estilos. As torres das catedrais góticas lembram que a Igreja é militante, sendo preciso combater o mal. As esculturas representam o juízo, o inferno e o demônio. Quem não combater o mal, perder-se-á.

               O Renascimento, por seu antropocentrismo, colocou o homem no lugar de Deus. Deixou-se de aspirar à beleza celestial para viver-se somente para o bel mondo. A arte renascentista procura agradar a sensualidade, o que torna impossível a conciliação entre o  Catolicismo e o Renascimento.

         A catedral de S. Paulo procura combinar dois estilos em si contraditórios, o gótico e o renascentista. Enquanto o primeiro volta-se a Deus, o segundo ao homem. A fachada , as torres e a nave remetem o homem a Deus, a cúpula o homem a si mesmo. Ela é um centauro arquitetônico: o corpo é gótico, chamando o homem ao bem e à verdade; a cúpula leva ao prazer sensual como fim. Parece a santidade levando a canga do pecado.

           Do ponto de vista estético, os estilos não combinam, não havendo harmonia entra as linhas austeras do gótico e as licenciosas do renascimento. Não há proporção entre as medidas do corpo e as da cúpula. É uma dodecafonia arquitetônica.


Paulo Eduardo Razuk


São Paulo,  08 de outubro de 2020.


Fontes:

Wikipedia.org/Catedral_Metropolitana_de _São_Paulo

Orlando Fedeli, As Três Revoluçôes na Arte, Monfort.org.br/cadernos/arte/3 revoluções