23 agosto, 2020

A Casa Real de Espanha

 

  

                                                                                                     Paulo Eduardo Razuk

  

                                                                     O domínio da Casa de Habsburgo  na Espanha iniciou-se com Carlos I, que era neto do Imperador Maximiliano da Alemanha e dos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de  Castela. Ao abdicar do trono, em 1556, deixou a Espanha para seu filho Felipe II e a Áustria para seu irmão Fernando, vindo a falecer em um convento em 1558.

                                                                     A Casa de Habsburgo, que os espanhóis chamam de os Áustrias, reinou na Espanha até 1700, ano em que morreu  Carlos II, que não deixou herdeiros. A sucessão da coroa espanhola causou uma guerra européia. De um lado, o arquiduque Carlos de Áustria; de outro, o príncipe Felipe de Anjou, neto de Luís XIV, rei de França. Com a paz de Utrecht, em 1713, Felipe de Anjou foi reconhecido como rei de Espanha, assumindo o nome de Felipe V, a inaugurar o domínio da Casa de Bourbon, que, com interrupções, perdura até hoje na Espanha.

                                                                    Desde 1713, vigia na Espanha a lei sálica, que não admite a sucessão da coroa pela linha feminina. Em 1800, sem obedecer ao devido processo legislativo para tanto, Fernando VII alterou unilateralmente a lei, o que não foi acatado pelos tradicionalistas. Faleceu em 1833, deixando apenas uma filha menor, que assumiu o trono como Isabel II,  não reconhecida como rainha pelos legitimistas, que apoiavam Carlos, irmão do rei. Houve três guerras carlistas pela sucessão da coroa espanhola, em 1833/1840, 1846/1849 e 1872/1876.


                                                                  Surgem, assim, duas linhagens da Casa de Bourbon na Espanha: a) a cognada, representada por Isabel II e sua descendência, que resulta da usurpação da coroa, ilegítima, liberal e revolucionária; b) a agnada, legítima, antiliberal e antirrevolucionária.

                                                                    A característica de Isabel II, frívola e irresponsável, foi a instabilidade política, suscitando um sentimento antimonárquico, que desaguou na revolução de 1868, com a sua fuga para a França. Foi chamado ao trono espanhol o príncipe italiano Amadeu de Sabóia, que abdicou dois anos depois e regressou à Itália.

                                                                  Instaurou-se a primeira república, entre 1873 e 1874, que terminou com um golpe de estado, tendo sido o trono dado a Afonso XII, sucedido por Afonso XIII, filho e neto de Isabel II. Perdurando a instabilidade política, em 14 de abril de 1931, foi proclamada a segunda república, com a fuga de Afonso XIII do país. Essa república , contra o sentimento religioso do povo espanhol, promoveu cruel perseguição contra a Igreja Católica, com  a proibição do ensino em escolas católicas e a expulsão de comunidades religiosas, entre as quais a Companhia de Jesus. À reação católica o governo respondeu com a expulsão do país do cardeal Segura, primaz da Espanha , além do incêndio de igrejas e conventos.

                                                                  Tudo isso terminou em guerra civil, que durou três anos, de 1936 a 1939. De um lado, nacionalistas, monarquistas, carlistas e falangistas; do outro, republicanos,  socialistas, comunistas e anarquistas. Os primeiros receberam auxílio da Alemanha nazista e da Itália fascista; os segundos da Rússia soviética. Era um ensaio do que seria a segunda guerra mundial. O conflito terminou com a vitória dos primeiros, dando início à ditadura do caudilho Francisco Franco, a durar até 1975.

                                                                  Ao final da vida, Franco havia designado o príncipe João Carlos, neto de Afonso XIII, como seu sucessor, deixando de lado o seu pai, o príncipe João de Bourbon e Battenberg, com o que se pulou uma geração.  João Carlos I reafirmou o caráter liberal da sua linhagem, instaurando no país uma monarquia parlamentar à inglesa, em que o rei reina,  mas não governa nem administra, constituindo uma figura decorativa, relevante como os reis do baralho. Em face do seu descrédito, abdicou em 2014 em favor de seu filho Felipe VI, atual ocupante do trono espanhol. Casado com uma plebéia antes divorciada, vem enfrentando o desgaste da família real por comportamento inadequado de seus membros.

                                                             A linha isabelina, à ilegitimidade de origem somou a ilegitimidade de exercício, tendo decaído da confiança da nação. É possível que a dinastia borbônica, iniciada por Felipe V, termine com Felipe VI.

                                                                 A dinastia legítima era a de Carlos V, que se extinguiu em 1936 com a morte de Afonso Carlos I, sem descendentes na linha reta. Não obstante, os tradicionalistas esperam que um príncipe de sangue que ostente a bandeira  dos princípios tradicionais da monarquia espanhola, mercê de Deus, venha a ostentar a coroa. Tais princípios são: 1) a religião católica apostólica romana, 2) a constituição natural e orgânica da sociedade tradicional, 3) a associação das distintas regiões integrantes da unidade espanhola, 4) a autêntica monarquia tradicional, legítima de origem e de exercício. O pretendente reconhecido pela comunidade tradicionalista é o príncipe Sixto Henrique de Bourbon-Parma.

 

 

Fontes:

J.M. Roldan, História de España , Edelsa, Madrid, 1989.

Francisco Elias de Tejada, Rafael Gambra e Francisco Puy, ¿ Que es el Carlismo?, Escicla, Madrid, 1971.