27 abril, 2020

O VÍRUS E A AMBIÊNCIA ANTICIVILIZACIONAL




A crise causada pelo vírus chinês é anticivilizacional, fortaleceu a Nomenklatura burocrática e fragmentou a sociedade. Impôs a dualidade indivíduo e Estado e enfraqueceu os corpos intermediários. Conceitualmente, tem alma revolucionária, aliando-se a tudo o que de pior “as Revoluções” geraram no mundo ao longo dos séculos.

Uma prova do ataque aos corpos intermediários é que a crise do coronavirus gerou não acontecimentos à mesa de bares e de restaurantes. Na ambiência destes estabelecimentos vê-se a confraternização entre amigos, entre colegas de trabalho, entre família, etc., inexistindo a figura do Estado e do homem médio isolado. O bar é o oposto da crise do vírus chinês.

Por outro lado, a pandemia é compatível com o “delivery” e com o abominável “drive thru” de “fast food” e fez o apogeu deste último que é a vitória inconteste da má alimentação. Aliás, o vírus começou como fruto da má alimentação.


Esteticamente, a pandemia é pós moderna”, similar aos filmes de ficção científica dos anos 1960, 1970 e 1980, da linha apocalíptica, nos quais eram mostrados parques, praias, ruas vazios (o dito romântico de Castro Alves aqui é violado: “a praça é do povo, assim como o céu é do condor”). E o uso atual das máscaras também se harmoniza com a visão higienista destes mesmos filmes. Curioso que a palavra hipocrisia tem sua origem etimológica no vocábulo que designava os atores que usavam máscara no antigo teatro grego.  

A crise também tem acepção arquitetônica e urbanística, de alma anti-barroca, e devastou a alegria da Plaza Mayor espanhola e das ruas brasileiras. É dito pelo Estado que “só se pode sair de casa em caso de necessidade”, similar ao conceito da arquitetura funcionalista de Bauhaus, por exemplo, já que ambos se referem ao “utilitarismo”.

A pandemia mutilou o dia. A reforma de Lutero está para a religião, assim como a pandemia está para o cotidiano.
Na economia, a pandemia favorecerá as grandes corporações em detrimento dos pequenos estabelecimentos comerciais, fortalecendo o comando e controle financeiro do mundo e, é claro, haverá “rearranjo de poder”, como sempre acontece nas crises.

No Direito, houve o “não direito” imposto à população. O trabalho foi limitado ou até mesmo proibido, em alguns casos, o que é gravíssimo. O triunfo de Hegel e do fascismo se apresentou: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado.
quarentena em São Paulo, 2020.

A pandemia vitaminou a televisão, que estava em decadência. Assim, a televisão retomou o protagonismo para a o emburrecimento da população.

A crise atiçou as pessoas para o “fake news”, para o achismo, para o mundo falso da “pós-verdade”, para os “memes” e para a busca impulsiva de informações, fortalecendo o império do efêmero, desviando as pessoas dos valores irreformáveis e perenes da civilização. E, ainda, levou o homem a abusar mais da intermediação eletrônica, por meio de celulares, computadores etc. que pela sua natureza é personalíssima, ajudando a atomização do ser humano e a coisificação das relações. O mote de repente “O planeta movido a internet é escravo da tecnologia” nunca foi tão verdadeiro.

O pior foi o ataque à religião com o infeliz (e esperado) servilismo dos bispos, causando o fechamento das igrejas e a consequente intermediação eletrônica do serviço religioso, via televisão ou computadores, em mais uma tentativa de protestantizar a religião católica.

A pandemia foi uma demonstração de força de quem manda no mundo. A ação coordenada imposta às nações mostra moção competente das lojas secretas e discretas.

A crise fez uma fusão de elementos comunistas, protestantes, liberais e fascistas (que no fundo são todos aparentados) e pressageia manobras futuras sempre com o intuito de ferir o que sobrou da civilização católica.

Marcelo Andrade, abril de 2020.