09 agosto, 2017

A SIMBOLOGIA DO XADREZ [1]


Num mundo afogado por tecnologias e por jogos eletrônicos de toda a sorte, tais como os videogames, os infames “joguinhos” de celular e de computador, etc, um jogo antigo que ainda se destaca, de forma surpreendente, é o xadrez.
Jogo proporcional à beleza da sala e às roupas dos cardeais.

Sua origem remota se encontra na Índia e na Pérsia, e sua forma definitiva foi estabelecida na Europa do século XV, na Itália e na Espanha.

Por causa de sua origem indiana e persa, o xadrez permitiria simbologia ruim e mística.
Em que pese esta possibilidade, ainda que atenuada na sua forma definitiva, o xadrez possui simbolismos interessantes e corretos que motivaram este trabalho.

Na Idade Média, religiosos e sacerdotes fizeram sermões utilizando o xadrez como metáfora para a religião e a moral.[2]


Santa Teresa de Ávila, padroeira do xadrez, cita o jogo em seu livro “Caminho da Perfeição”.

Podemos relacionar os seguintes valores simbólicos do xadrez:

- Desigualdade. As peças do xadrez são desiguais quer em movimentos quer em importância. A desigualdade é que permite a riqueza do jogo, desta forma o xadrez ensina que a desigualdade é um bem e não a igualdade.

- Monarquia. É um jogo monárquico, pois o rei é a peça mais poderosa e tudo gira em volta da defesa do próprio rei e ataque ao rei do adversário.

- Valor do sacrifício. O jogador sacrifica as peças visando melhor posicionamento e estratégia. Isto pode simbolizar os mártires ou os heróis nas guerras.

- Apoio. Normalmente não se pode dar xeque-mate sozinho, é preciso ao menos duas peças, os homens precisam ajudar-se uns aos outros.[3]

- Promoção-recompensa. Os peões só podem ser promovidos após chegarem ao final, como que premiados por mostrar o valor em combate. Na Idade Média, normalmente, só era feito cavaleiro quem mostrava bravura em combate.

- Estratégia e lealdade. O xadrez é jogo aberto, não há “cartas na manga” nem se pode esconder as jogadas como se faz em outros jogos.

- Prudência. É necessário estudo, a compreensão do passado, a inteligência do presente e a previsibilidade do futuro para se jogar bem.

- Independência da força e das habilidades físicas. É um jogo meramente mental. Se os contendores forem bem inteligentes podem até jogar sem tabuleiro.

- Sujeição do material ao espiritual. Possuir mais peças é inferior a ter posicionamento melhor.

- Desapego. No jogo há que se desapegar das peças para poder vencer.

Simbolismo das peças:

1) Rei: a peça principal, pois não pode ser perdida, seus movimentos são limitados. Ele transparece humildade, pois deixa as outras peças atuarem. Pode representar a Cristo, pois, podemos perder tudo nesta vida menos a Ele. E se tomarmos “xeque-mate” no começo, pode significar que não adianta ter todos os bens da terra e perdê-Lo. A autoridade do rei pode ser simbolizada pela razão de que ele não se move muito, seus súditos é que devem fazê-lo. Porém, quando é necessário, normalmente em fim de jogo, ele entra em ação.

2) Dama. Peça mais poderosa do Xadrez, embora o Rei seja mais importante, representando o valor da mulher.

3) Torre. Representa bem o lado material do xadrez, alusiva às torres móveis das batalhas medievais. Lembra que o homem é matéria também e ela é boa.

4) Bispo. O lado religioso do jogo não é esquecido, afinal não podemos viver sem a Igreja.

5) Cavalo. Melhor dizer cavaleiro ou cavalaria. Remete à beleza das ordens da cavalaria. Os cavalos sabem pular as peças, superam bem os obstáculos.

6) Peão. O combatente simples, mas que não sabe recuar e enfrenta até inimigos mais poderosos e que pode ser promovido se mostrar valentia.

O jogo como um todo pode ter algumas figuras interessantes, nele há várias dualidades presentes: vício e virtude, campo e cidade, corpo e alma etc.

Alguns simbolismos do xadrez, visto como um todo:

Xadrez e debate. O xadrez pode simbolizar um duelo intelectual, no qual os dois competidores fazem uma disputa. Cada peça tomada é um argumento vencido. O xeque mate é bem representativo de uma vitória final, no qual, todos os argumentos do opositor foram vencidos e foi apresentado um argumento decisivo e inescapável, que fulminou o pensamento do adversário.

Xadrez e vida espiritual. Com base em Santa Teresa D´Ávila, os movimentos das peças de xadrez são como exercícios espirituais e o “xeque-mate” é como um em Deus que não pode recusar os pedidos e os exercícios, “obrigando” a Deus a conceder o que se pede.

Xadrez e labirinto. O xadrez é um labirinto dinâmico no qual os becos sem saída são jogadas infelizes e as boas são os caminhos com saída. A vida é um labirinto.

Xadrez e o caminho para a virtude. No caminho para a virtude são necessários sacrifícios, haverá perdas e pequenas derrotas e o xeque-mate é a vitória final. As ciladas do jogo são como as do demônio que temos de superar.

Xadrez e a história. A história é a luta entre a cidade dos homens e a cidade de Deus, representado pelas peças brancas e pretas.

Por fim, não há jogo, hoje em dia, mais elevado e simbólico que o xadrez. Como o simbolismo transcende a matéria, nos leva a um plano mais espiritual. Nosso mundo é muito materialista, daí a importância do simbolismo.

O xadrez é um jogo que deve ser incentivado, pois só trás benefícios. E os “jogos eletrônicos” evitados.

O xadrez não deixa de ser mais um legado do Catolicismo.

Marcelo Andrade, de São Paulo para o Recife.




[1] Agradeço as observações de Edson Dalla Vecchia, professor de física e de xadrez na Escola São Mauro.
[3] Há exceções: É possível dar mate só com uma peça, por exemplo, o mate de gaveta (quando o rei está fechado com seus piões no roque; e a torre ou dama desce na oitava casa, ou o cavalo, quando o rei está cercado por peças e não há como tomar o cavalo.