23 novembro, 2016

Kant e a Morte da Metafísica (PARTE V - FINAL)

Conclusão

São evidentes as contribuições da metafísica às ciências naturais como botânica e zoologia, bem como às ciências não naturais, como filosofia e teologia. Sem a ordem cósmica, as semelhanças entre os diferentes seres seriam mera coincidência. Não haveria sentido em classificar os seres de acordo com suas categorias (que categorias?); em separar a botânica da mineralogia, enfim, sem a ordem no universo, não poderíamos afirmar que uma semente de girassol é um girassol em potencial, por exemplo.

O homem médio pode não perceber que ao destruir a metafísica, destrói-se a ciência, a teologia e, inclusive, a razão. O Pensamento fica aleijado. Como alguém, a bem da razão, duvida até da própria razão? É óbvio que não é a serviço da razão que eles trabalham. Contra filósofos como esse, São Paulo adverte:

Cuidado com esses cães! Cuidado com esses charlatães! Cuidado com esses mutilados (Filipenses 3:2)”.
  
Os modernistas parecem ter extrapolado todos os limites. O livre-pensamento, após tudo questionar, questionou a si mesmo, aniquilando-se como uma serpente devorando o próprio rabo. Pareceria uma mera alegoria, não fosse pelo fato de alguns modernistas realmente representarem a eternidade com a imagem duma serpente (ou dragão) devorando-se. Fato similar ocorre no campo das artes. Questionam-se todos os limites e atributos da arte. Até que todos os caracteres que faziam algum produto da mente humana ser chamado de arte desapareçam, e o produto não possa mais ser chamado de arte. Logo, percebemos que o motor dos modernistas, desde Kant até os mais recentes, é a revolta contra a existência. Essa revolta contra a realidade e contra tudo o que há, tem origem na Gnose, uma espécie de “Antropoteísmo” (religião do homem). Para melhor entender a Gnose, recomendamos o Livro do Professor Orlando Fedeli: “Antropóteísmo” (FEDELI, Orlando. Antropoteísmo - A Religião do Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011).
 



O fato é que os modernistas desaprenderam a pensar. Esqueceram que todo conhecimento parte de um fato. A ciência consiste justamente em acreditar nesse fato e em desenvolver as consequências dele. Imaginemos que, em vez de formular a Teoria da Gravitação Universal, Newton ficasse duvidando da queda da maçã. Imaginemos se Pitágoras resolvesse duvidar dos três lados do Triângulo Retângulo. Não sabemos o que é mais assustador, se é o absurdo existente nessas “filosofias” modernas, ou se é a amplitude e penetração dessas sandices no mundo atual. Como pode haver tanta gente acreditando nessas fraudes? Explicaremos.  

Kant personifica a figura do "louco", descrita por Chesterton no seu livro "Ortodoxia". Segundo o autor, o louco é aquele que perdeu tudo, menos a Razão. Perdeu a Fé em Deus, daí não consegue enxergar, ou não quer admitir sua pequenice. Perdeu a Moral, então não será capaz de compreender a beleza por trás de um "muito obrigado". Perdeu a humildade, por isso não consegue admitir a existência de um "Mistério". Não acredita em nada, exceto em si mesmo. E para onde vão aqueles que acreditam em si mesmos? Ao manicômio Hanwell*, ora. Mas não nos enganemos. Esses loucos são capazes de enganar muita gente. Seu racionalismo é capaz de disfarçar as heresias mais absurdas; de seduzir os “intelectuais” de plantão. Suas explicações são sempre muito bem elaboras, mas seus frutos são sempre maus. 

Honestamente, não dá para analisar o kantismo sem lhe atribuir uma patologia psicológica grave. Além dos erros científicos, seu pensamento aprisionou os modernistas num cosmos muito menor do que o mundo cristão tradicional. Vale dizer: os modernistas vivem num cosmos pequeno e sem graça. No mundo cristão há metafísica; virtudes morais a serem alcançadas; pecados e vícios a serem vencidos; misericórdia de Deus e Vida Eterna. No mundo cristão nós temos dogmas que ao invés de nos prender, libertam-nos. Somos livres para acreditar em destino, ao mesmo tempo acreditamos em livre-arbítrio. Acreditamos na Ciência e no seu poder, mas ao mesmo tempo reconhecemos que há mistérios que somente Deus conhece. Isso nem sempre nos leva para o céu, mas certamente nos livra do Hanwell.




County Asylum at Hanwell. – Instituto Mental Hanwell.


Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.
Bruno Silveira.




Referências:
CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p.264;
FEDELI, Orlando. Antropoteísmo – A Religião do Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011;
AQUINO, São Tomás de – Suma Teológica. Brasil: Loyola, 2001;
Concílio do VATICANO I, Denzinger 3000 a 3075 (1869 - 1870);
Encíclica "Humani generis", Denzinger 3875 a 3899 (1950);